Navios por Dentro: Funchal – 2

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Nesta edição especial da série Navios por Dentro, de Rui Agostinho, confira a segunda parte da história do emblemático navio português Funchal, com imagens do seu interior feitas pouco depois da grande renovação pela qual o navio passou recentemente. Na primeira parte, publicada no ano passado, havíamos apresentado os interiores do navio antes da reforma, junto à história da parte inicial de sua carreira, clique aqui para ver. Inaugurado em 1961, o navio voltou a operar no final do ano passado, por uma nova companhia, a Portuscale Cruises. 

Para ler a primeira parte completa da história do Funchal, clique aqui. Inaugurado em 1961, o Funchal via-se em 1974 em uma situação nova: agora um navio de cruzeiros, era administrado por uma nova companhia. Construído sob encomenda da Empresa Insulana de Navegação, pela qual havia navegado até então, o navio era agora parte da Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos, empresa formada pela fusão da própria Insulana com a Companhia de Navegação Colonial. Enquanto isso, longe de Portugal, um encontro importante acontecia. Em 1974, Bo Paulson, um operador turístico sueco conhecia o grego George Potamianos. Ambos seriam figuras de grande importância na história do navio nos anos seguintes.

Potamianos já trabalhava com navegação quando conheceu Paulson em 1974, que buscava um navio para operar a partir da Suécia, em cruzeiros pelo Norte da Europa. A primeira associação entre os dois ocorreu para a operação de um navio grego, que não foi reutilizado no ano seguinte. Assim, George passou a procurar uma nova embarcação para substituir o navio original, encontrando o Funchal imobilizado em Lisboa em 1975. Após uma visita a Portugal e ao navio, a comitiva de Potamianos e Paulson se convenceram, e apostaram no fretamento do navio português, que agora tinha uma incomum chaminé laranja com duas faixas azuis e uma amarela.

Assim, o navio operou no mercado sueco durante todos verões europeus seguintes (até 1998), realizando também outros cruzeiros fretado por outras operadoras, como a portuguesa Abreu, e vindo também ao Brasil em várias ocasiões para temporadas de inverno boreal. Os novos motores a diesel, instalados na grande reforma de 1973, no entanto, também eram suscetíveis a falhas, e apresentaram alguns problemas – especialmente devido à manutenção inadequada. O episódio mais grave ocorreu em 1983, quando o navio precisou ser deslocado até Amsterdam para que os reparos nos motores pudessem ser realizados.

Em 1986, a CPTM, que havia se tornado uma empresa estatal pouco após a sua instituição, resolveu vender toda a sua frota, agora composta quase exclusivamente por navios de carga. Dessa forma, um leilão foi realizado para a venda do Funchal, em agosto do ano em questão. Candidatos óbvios, George Potamianos e Bo Paulson já conheciam profundamente o navio na época, e a decisão de dar um lance foi natural. Com a melhor proposta entre os interessados, os fretadores passaram então a proprietários do navio, tendo concluído o pagamento de 3,2 milhões de dólares em setembro de 1986 e assumindo totalmente a operação do navio nesta mesma época.

Nos anos seguintes, o navio que já era popular na Suécia passou a operar ainda mais intensamente no mercado local, chegando a oferecer cruzeiros de cerca de um mês com destino ao Caribe, como atualmente apenas companhias inglesas fazem. A empresa sueca em questão, Fritidsresor, operava o navio com base no porto de Gotemburgo, no sul do país escandinavo. As coisas só foram mudar em 1993, quando a Fritidsresor foi vendida. Sob nova administração, a empresa reclinou em continuar proprietária do navio, apesar de ter demonstrado interesse em continuar a operá-lo durante os verões suecos. Os suecos chegaram então em um acordo com George Potamianos para a venda do navio ao grego, que passou a ser seu único proprietário, segundo um contrato que incluía também uma cláusula de fretamento do navio, que continuaria com a Fritidsresor até 1998. 

Em 1998, após o final do contrato de fretamento, Bo Paulson deixou a Fritidsresor para fundar sua própria empresa de turismo, firmando parceria com Potamianos para que o navio continuasse operando na Suécia, entretanto, agora sob o comando de um novo operador. A empresa responsável pelo Funchal, no entanto, não foi alterada desde a sua compra junto à CPTM em 1986.

Após alguns anos operando pela Arcalia Shipping, de Potamianos, passou a ser administrado pela marca Classic International Cruises, que chegou a operar uma frota de 5 navios. Em 2012, com a falência da CIC, foi comprado por Rui Alegre, que fundou a Portuscale Cruises, empresa responsável por finalizar sua reconstrução. Após algumas temporadas operando sob a bandeira da nova companhia, foi imobilizado em Lisboa, e aguarda um operador interessado em fretá-lo ou comprá-lo para que continue operando.
Na fase em que foi propriedade de George Potamianos, esteve no Brasil diversas vezes, fretado pela BCR de Milton Sanches. Em 2 de dezembro de 1998, fez história ao ser o primeiro navio de cruzeiro a atracar no cais 25, em frente ao Terminal de Cruzeiros Marítimos de Santos, o Concais. Inaugurado pouco antes, o terminal atendia os passageiros dos navios enquanto estes atracavam em cais próximos, como o 23. O Funchal foi também pioneiro nos cruzeiros a Fernando de Noronha, fazendo muitas escalas no arquipélago durante suas temporadas nacionais. Chegou a ser cotado para um retorno a este roteiro, com a retomada da BCR, mas os planos não se concretizaram.
Texto (©) Copyright Daniel Capella (com informações de Blog Paquete Funchal, de Luis Miguel Correia; Funchal: Ser do Mar, de Rui Alegre; e Some Notable Smaller Vessels, de Anthony Cooke).
Imagens (©) Copyright Rui Minas Agostinho.

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2 Comentários

  1. Como faziam no passado, as grandes operadoras de turismo, deveriam fazer um pool e trazer o Funchal novamente para Fernando de Noronha.

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