Navios por Dentro: Thomson Spirit

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Lounge com vista panorâmica

Neste mês, a série Navios por Dentro, de Rui Agostinho, apresenta, pela primeira vez, os interiores de um navio da Thomson Cruises. O Thomson Spirit é um dos mais tradicionais da frota, e um dos que possui mais história na frota da companhia. Inaugurado em 1982, navegou também pela Holland America Line e pela histórica United States Line. Servindo essa última, utilizou a bandeira norte-americana, um feito raro para navios modernos. Conheça mais dessa história e dos interiores do navio a seguir!

O Thomson Spirit tem suas áreas públicas localizadas, em geral, na popa do navio. 
O teatro, chamado Broadway Show Lounge, tem dois andares e também fica na parte mais traseira do navio. 

O Thomson Spirit é atualmente o navio que há mais tempo navega para a britânica Thomson Cruises. Parte de um grande grupo de turismo inglês, conhecido como Thomson Holidays, a companhia opera o navio desde 2003. A embarcação, no entanto, é propriedade de outra companhia, gerida por uma terceira, e foi inaugurada em 1983.

Além da varanda voltada ao palco…
…o segundo andar do show lounge funciona como um bar. 
O local é chamado Mezzanine Bar and Lounge. 

Originalmente Nieuw Amsterdam (III), o Spirit foi encomendado, projetado e construído para a Holland America Line (HAL), uma das mais tradicionais companhias de cruzeiro da atualidade. Após iniciar suas operações com transporte de carga e linhas de passageiros regulares entre a Holanda e os EUA, a empresa passou a voltar totalmente suas atenções para o mercado de cruzeiros no começo da década de 70.

O navio conta com também com uma área de lojas, chamada Broad Street.
Outro ângulo da área de lojas Broad Street
Computadores no Browser’s Corner

Fundada em 1873, a então centenária companhia de navegação começou a se desfazer dos antigos transatlânticos de linha, já obsoletos e com menos três décadas de serviço cada e vendeu sua divisão de cargas para outra empresa. A partir daí, adotou nova estratégia: oferecer exclusivamente cruzeiros contemporâneos de alto nível, em roteiros tradicionais e também exóticos, voltados a um segmento de público que buscava, então, viagens mais luxuosas.

Comum em navios ingleses, o navio possui uma área de leitura que conta com livraria e computadores para acesso à internet
A área se chama Browser’s Corner, e é parte do Explorers’ Lounge. 
Salão de Jogos

Alguns dos transatlânticos, o SS Rotterdam (V, de 1959) e o Statendam (IV), foram adaptados pra a nova função, e outros foram adquiridos como os gêmeos Argentina e Brasil, renomeados Veendam (III) e Volendam (II). Entretanto, no começo dos anos 80, a frota já somava, em geral, mais de 30 anos de operação, e se tornava cada vez mais dispendiosa e antiquada. Com novos operadores, como a célebre Royal Viking Line surgindo e tentando dominar o nicho de mercado da HAL, com navios novos e modernos, ficou claro que era necessário modernizar a frota com novas embarcações.

Como também é comum em navios europeus, o casino do Thomson Spirit é diminuto. 
Cercado com bares e lounges, o espaço conta com algumas mesas e máquinas de jogos

Nesse contexto, o Nieuw Amsterdam foi encomendado, marcando o início de uma nova fase para a companhia. Diferente de todas as embarcações que já tinham operado pela HAL, o navio foi construído pelo estaleiro francês Chantiers de l’Atlantique, e ainda teve um gêmeo, o Noordam (III). Com capacidade para 1,214 passageiros e cerca de 33,000 toneladas, o navio foi projetado para consumir pouco combustível, e ter uma boa proporção de espaço a bordo por passageiro. Assim, para cada passageiro, o navio tinha 28 m² de espaço “disponíveis” em áreas públicas. O Holiday, da Carnival Cruise Line, por exemplo, inaugurado alguns anos depois, em 1985, tinha uma proporção de 25 m² por passageiro.

Um dos lounges de bordo, o Explorers’
O espaço conta com um piano, para música ao vivo
High Spirits

O navio foi batizado pela princesa Margriet, irmã da Rainha da Holanda, em 9 de julho de 1983, e realizou alguns cruzeiros às Bermudas e ao Caribe assim que foi inaugurado. A embarcação foi projetada com os roteiros entre a Costa Leste dos EUA e as Bermudas em mente, apresentando características ideais para essa operação. Principal destino nas Bermudas, a capital Hamilton, por exemplo, possui um cais central com limitações, o que impede que navios muito grandes atraquem nele. O Nieuw Amsterdam e seu gêmeo Noordam possuem as dimensões máximas possíveis para atracação nesse local.

Outro show lounge é o High Spirits, que conta com ampla pista de dança
Localizado na popa, o espaço tem vista para a piscina principal, e é um dos principais polos de vida noturna do navio. 

Com suas características, tanto o Nieuw Amsterdam quanto o Noordam foram um sucesso comercial para a Holland America Line, que os operou até o começo dos anos 2000. Terceiro navio da frota a ser nomeado Nieuw Amsterdam, o navio operou principalmente em roteiros pelo Alaska e costa oeste dos EUA durante sua carreira pela HAL, mas também navegou em outras regiões, como o Caribe, a Ásia, a Europa e mesmo a América do Sul.

No outro extremo do navio, a proa, o Horizons Bar é uma espécia de área de observação da navegação
O espaço fica em um dos decks mais altos do navio, o de número 9. 
A pista de dança do Horizons 

Em 1999, a HAL decidiu vender a embarcação, e chegou a um acordo com a American Classical Voyages (AMCV), uma companhia de cruzeiros norte-americana. Construindo dois grandes navios em estaleiro americano, a companhia pretendia operar o navio no Hawaii, em substituição ao tradicional Independence, que tinha então mais de 50 anos, e já não era mais suficientemente rentável, além de ter problemas para se adaptar às normais então vigentes para a navegação de passageiros.

O espaço ainda conta com um palco e pista de dança. 
Uma das escadarias do navio
Lobby de elevadores

O Independence, tinha, no entanto, uma característica fundamental para cruzeiros no Hawaii, registro e bandeira dos EUA. Esse fator é importante para a operação no Hawaii por conta da lei de cabotagem dos Estados Unidos, que impede que navios de bandeira estrangeira realizem cruzeiros com passagem exclusivamente por portos dos EUA. Dessa forma, para um navio estrangeiro realizar um cruzeiro com partida e final em um porto norte-americano, é necessário que, ao menos, uma escala seja feita em um porto estrangeiro.

Recepção e sua área

Como o Hawaii está localizado no meio do Oceano Pacífico, a dias de navegação de qualquer outro país ou porto estrangeiro, o registro norte-americano permite roteiros mais curtos, melhores e mais completos com passagem apenas pelas ilhas havaianas. Para obter a bandeira e registro dos EUA, no entanto, um navio precisa ter sido construído em um estaleiro norte-americano, e ter tripulação quase totalmente composta por norte-americanos.

Raffles bar
Inspirado em um bar de mesmo nome em Singapura, o Raffles Bar é descrito pela Thomson como uma área para conhecer pessoas. 
A companhia também recomenda a área para drinks pré-jantar.

Registrado no porto de Rotterdam, na Holanda, o Nieuw Amsterdam não tinha essas características quando foi vendido à American Classical Voyages. Ainda assim, obteve autorização para receber a bandeira dos EUA, e foi registrado no porto havaiano de Honolulu, se tornando o primeiro navio desde 1958 a ter tal distinção. A mudança de bandeira foi possível por conta de uma exceção dada a AMCV, que tinha um projeto, chamado America, de construção de dois navios em um estaleiro dos EUA em andamento.

O restaurante principal é o Compass Rose, que fica no deck 4. 
É o único restaurante principal da embarcação, que conta também com um restaurante self-service. 
Todas as refeições são servidas aqui

Esperando que a companhia pudesse reavivar a construção de navios de cruzeiros nos Estados Unidos, o congresso do país aprovou diversos incentivos à American Classical Voyages, incluindo a operação do Nieuw Amsterdam sob a bandeira norte-americana. A idéia era permitir que a companhia iniciasse a operação no Hawaii antes da entrega dos navios em construção nos EUA.

O outro restaurante do navio é o Lido. 
Mais informal, esse restaurante funciona no sistema self-service
Assim como o Compass Rose, abre para todas as refeições

Renomeado Patriot, o navio foi reformado em San Francisco, no final de 2000. As primeiras viagens do navio foram canceladas após problemas com a Guarda Costeira dos EUA, que exigiu mudanças em áreas técnicas do navio para autorizá-lo a voltar a operar. Com as questões resolvidos, o navio iniciou a nova fase de sua carreira no final de novembro de 2000. Após partir com cerca de 700 passageiros para o Hawaii, iniciando os roteiros semanais pelo arquipélago estadunidense.

O navio ainda conta com uma academia, chamada Oceans
Há duas saunas anexas. 
O navio também tem um spa, mas ele fica em outra área.

Em outubro de 2001, no entanto, a AMCV acabou por declarar falência, envolta em débitos. Além da operação do Patrior, a empresa investia na construção de dois navios de grande porte (parte do já citado projeto America), e da construção de duas embarcações menores para cruzeiros costais (chamados Cape Cod Light e Cape May Light), e acabou por não conseguir bancar o custo de tudo. A companhia não havia sequer pago os 144 milhões de dólares prometidos à Holland America pelo Patriot.

O típico photoshop
O Lido Bar, na área externa do navio
Mesas na área da piscina principal

Assim, a HAL passou a negociar com a AMCV o futuro do navio. Por contrato, a primeira tinha preferência em readquirir o navio por um valor mais baixo, caso este voltasse ao mercado. A Holland America não tinha, no entanto, interesse em voltar a operar o ex-Nieuw Amsterdam, e selou um acordo para que a AMCV continuasse operando-o até, ao menos, o ano de 2002, caso tivesse condições. Isso acabou não dando certo, no entanto, e, sem receber, a Holland America ordenou que o navio fosse arrestado para integração de posse.

O Thomson Spirit tem duas piscinas, a Adult’s Pool fica no deck 8
Essa área é exclusiva para adultos

Isso aconteceu em 26 de outubro de 2001, e o navio retornou a fazer parte da companhia de origens holandesas logo em seguida. Renomeado Nieuw Amsterdam, o navio permaneceu imobilizado em Honolulu por alguns meses, antes de ser levado a Charleston, no sul dos EUA, para manutenção em um estaleiro local. Inesperadamente com o navio de volta em sua frota, a Holland America Line passou a estudar a melhor forma de aproveitá-lo. Chegou a considerar designá-lo para os cruzeiros entre a costa leste dos EUA e as Bermudas para os quais foi projetado, mas acabou não voltando a operá-lo.

Áreas externas

Antes de colocar em prática este plano, em abril de 2002, a companhia conseguiu um contrato com outra companhia interessada em operar o navio. A Louis Cruises, do Chipre, resolveu fretar o navio, levando-o para um estaleiro na Grécia, onde o Nieuw Amsterdam foi novamente revitalizado, e emergiu com um novo nome: Spirit. Pouco depois, a Louis entrou em um acordo para um sub-fretamento do Spirit, que nunca chegou a operar para a companhia. Em vez disso, foi renomeado Thomson Spirit, e entrou na frota da britânica Thomson Cruises em 2003. O acordo inicial entre as partes era de dez anos, completados em 2013, quando o contrato foi estendido por mais dois anos, e em 2015 por mais dois.

Já a outra piscina, é a principal, e se chama Lido Pool
Aqui são todos bem vindos, e há, inclusive, uma piscina voltada às crianças.
O navio possui também quadras

Operando desde então em roteiros pelo Mediterrâneo, Caribe e Norte da Europa voltados aos passageiros britânicos, o navio recebeu na Thomson seu gêmeo Noordam em 2005. Renomeado Thomson Celebration, o navio também foi fretado pela companhia britânica em um contrato de longo termo. Com a entrada do Splendour of the Seas – renomeado TUI Discovery – e do Legend of the Seas – renomeado TUI Discovery 2 – na entrada da frota Thomson em 2016 e 2017, respectivamente, o Thomson Spirit deixará a frota da companhia no final de 2017. Seu futuro está em aberto a partir daí.

Texto (©) Copyright Daniel Capella.
Imagens (©) Copyright Rui Agostinho.

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