Navios chineses podem revolucionar indústria dos cruzeiros mundial

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Costa Atlantica entra em doca-seca em Shanghai
A recente encomenda de navios na China pela Carnival pode representar um importante passo no futuro da indústria de cruzeiros mundial. A importância da encomenda não se restringe à Ásia por trazer ao mercado a possibilidade da construção de navios novos e modernos, de grande porte, por preços menores que os praticados atualmente pelo estaleiros europeus, especializados em navios de cruzeiro. 


Como anunciado por nós, a Carnival Corporation encomendou dois novos navios à CSSC – China State Shipbuilding Corporation. As embarcações serão construídas por uma joint-venture que inclui a própria empresa chinesa, a Carnival, o estaleiro italiano Fincantieri e um fundo de investimentos chinês. 

Além de importante para o mercado chinês, a encomenda tem um significado maior para os cruzeiros em âmbito mundial, podendo representar o começo de uma nova era para a indústria. 
Carnival Vista em construção na Itália em 2015; navios chineses
 utilizarão mesmo design
Com mão de obra e materiais mais baratos que a média mundial, a China é um grande país industrial, que atraiu fábricas de todo o mundo. Mesmo marcas ocidentais mudaram suas produções para o país asiáticos, onde conseguem fabricar seus produtos por valores mais baixos, e, portanto, aumentar seu lucro. 
Uma exceção nessa lógica foi, até hoje, a construção de navios de cruzeiro. Mesmo que os estaleiros chineses, e asiáticos em geral, já construam vários tipos de embarcação e praticamente dominem o mercado de construção naval em vários setores, os navios de cruzeiro continuam sendo construídos quase exclusivamente na Europa. 

Com projetos altamente complexos e especializados, o mercado de construção de navios de cruzeiro ainda é dominado pelos estaleiros europeus tradicionais, como o STX France, ex-Chantiers de l’Atlantique, que tem origens datando dos anos 1800. O próprio conglomerado italiano Fincantieri, possui unidades como a do antigo Cantieri Navale Triestino, de Monfalcone, que foi fundado em 1908, e após uma fusão com outro estaleiro italiano, foi incorporado pelo estatal em 1984.

A exceção são estaleiros japoneses, como o Mitsubishi Heavy Industries, que, além de navios para as marcas domésticas japonesas, como o Fuji Maru, da Mitsui O.S.K. Line, construíram também na última década alguns navios para o mercado internacional. Foram duas ocasiões em que o Japão construiu navios de cruzeiro internacionais, sempre para marcas da Carnival Corporation.

Com mais de ano de atraso, AIDAprima deixa estaleiro onde
foi construído, em Nagasaki, Japão

No começo dos anos 2000, a Princess Cruises, então ainda controlada pelo grupo P&O Princess, construiu o Sapphire Princess e o Diamond Princess no país nipônico. Enquanto em construção, um dos navios se incendiou, causando grande prejuízo para o estaleiro, e um atraso de mais de um ano em sua construção.

Mais recentemente, a Carnival Corporation encomendou, também ao Mitsubishi, dois navios para a sua filial alemão AIDA. O primeiro dos navios, acabou tendo atraso de quase um ano e meio na data prevista para sua conclusão. O estaleiro, que ofereceu preços mais baixos que seus concorrentes europeus para a construção, acabou com prejuízo milionário, após assumir ter subestimado a complexidade da tarefa assumida. Os japoneses também afirmaram ter sido esse o principal motivo para o atraso na entrega das embarcações.

O segundo navio deste contrato, AIDAperla, tinha entrega prevista para o começo deste ano, mas continua em construção e deve ser finalizado apenas no primeiro trimestre do próximo ano. Ainda de acordo com o Mitsubishi, esse deve ser o último navio de cruzeiro construído pelo estaleiro, que se afastará, ao menos momentaneamente desse tipo de embarcação.

Fincantieri é o estaleiro com maior número de navios em encomenda

Se obtiver sucesso em seu contrato com a Carnival, a CSSC – China State Shipbuilding Coporation – pode revolucionar a construção dos navios de cruzeiro a nível mundial. Sendo capaz de construir navios de boa qualidade, entregues no prazo e por preços mais baixos, os estaleiros chineses poderiam passar a monopolizar o mercado, servindo não só companhias locais como no caso desta encomenda, mas também empresas internacionais.

Com preços mais baixos e qualidade aceitável, os navios chineses certamente teriam posição de destaque nos cadernos de encomenda das empresas de cruzeiro, deixando o domínio da indústria européia de construção naval no passado, e possibilitando modernização da frota mundial com maior quantidade de embarcações novas.

Companhias menores como a Pullmantur, a Celestyal e a Fred.Olsen, por exemplo, poderiam ter na diminuição de preços o incentivo para passar a encomendar novas embarcações como fazem as companhias maiores. Atualmente essas, e várias outras, companhias operam apenas navios de segunda mão, construídas por outras empresas há pelo menos quinze anos.

A vida média de um navio de cruzeiro, que hoje gira em torno de 35 anos, também poderia ser drasticamente diminuída, ao ponto de que, valeria mais a pena investir em um navio chinês moderno do que manter uma unidade mais antiga e significantemente menor eficiente.

Meyer Werft começa a construção de mais um navio de cruzeiro, em sua
doca-seca coberta

O certo, no entanto, é que os estaleiros europeus poucas vezes viveram fases tão boas para seus negócios de navios de cruzeiro. A lista de embarcações em encomenda é recorde e conta com unidades com entregas previstas até 2026, outro recorde. Estaleiros como o Meyer Werft, da Alemanha, que possui espaço limitado em suas docas secas e é capaz de entregar apenas cerca de duas embarcações de grande porte por ano, estão totalmente ocupadas.

O estaleiro alemão tem sua agenda totalmente cheia até 2021. Com os navios deste ano, e junto a sua filial norueguesa, o Meyer Turku, o estaleiro possui 22 unidades de navios de cruzeiro em encomenda ou entregues. Já o italiano Fincanrieri, irá entregar 26 navios até 2022, enquanto o STX France construirá 15 embarcações até 2026.

Vale notar, no entanto, que apesar de estarem em menor número, os navios do estaleiro francês são significantemente maiores. A indústria naval de St. Nazaire produzirá mais dois gêmeos para o maior navio do mundo, o Harmony of the Seas, e ainda construirá quatro embarcações de 200,000 toneladas para a MSC Crociere.

Texto (©) Copyright Daniel Capella.
Imagens (©) Copyright divulgação, FleetMoon, Carnival, Fincantieri e Meyer Werft.
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2 Comentários

  1. Não vai ser fácil a China construir navios de cruzeiros de qualidade a curto prazo. Há um provérbio chinês que diz que o que é bom é caro, o que é barato não presta, e a maioria dos navios construídos na China por preços baixos traduzem totalmente esta perspectiva. Materiais medíocres, navios novos com problemas de navios velhos logo à nascença, etc… Se fosse fácil já há muito que o Oriente tinha ocupado este nicho de mercado tão apetecível. O seu artigo é interessante e está bem escrito e fundamentado, apesar da linha politicamente correcta, pouco crítica, mas custa-me ler o termo "embarcação" a referir os grandes navios de passageiros actuais, que de facto são das criaturas mais nobres a sulcar os oceanos, apesar de pelas suas dimensões, os navios de cruzeiros levarem consigo numerosas embarcações, vedetas para embarque e desembarque de passageiros e tripulantes quando fundeados e embarcações salva-vidas, para o que der e vier. LUÍS MIGUEL CORREIA – Lisboa

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